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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

A era das redes sociais: um convite à depressão e ao suicídio

   

Lamentavelmente, os dados oficiais sobre o número de suicídios após a criação das redes sociais apontam para uma tendência preocupante. Estudos e relatórios de organizações de saúde mental têm destacado um aumento nas taxas de suicídio, especialmente entre adolescentes e jovens adultos, coincidindo com a proliferação e popularização das redes sociais.

    Em alguns países, observou-se um crescimento significativo nas taxas de suicídio entre jovens que experimentam uma intensa exposição às pressões sociais e padrões estéticos irrealistas disseminados nessas plataformas. Embora seja importante abordar essa correlação com cautela, os dados sugerem uma relação complexa entre a presença digital exacerbada e o agravamento de desafios mentais, reforçando a necessidade premente de uma investigação mais aprofundada e estratégias preventivas eficazes.    

    Na intricada tapeçaria da sociedade contemporânea, emerge uma rede complexa de fenômenos que, de maneira sutil e muitas vezes impactante, delineiam a experiência humana. A veneração do corpo, a definição de padrões estéticos, as engrenagens do capitalismo, a influência das redes sociais, os abismos da depressão, a sombra do suicídio e o medo da desconexão digital são fios entrelaçados que, ao se cruzarem, moldam a psique coletiva. Este texto busca explorar essas interconexões, guiando-se por insights de especialistas e referências bibliográficas que lançam luz sobre essa intricada teia que molda nossas vidas.

    A adoração pelo corpo, um fenômeno social que transcende os limites do óbvio, muitas vezes caminha de mãos dadas com os padrões de beleza que a sociedade estabelece. A reflexão acerca dessa dinâmica é aprofundada por pensadores como Naomi Wolf, cujo trabalho seminal, "O Mito da Beleza" (1991), desconstrói a construção social desses padrões e sua influência penetrante na autoestima e saúde mental.

    Enquanto o capitalismo perpetua sua presença marcante no cenário global, as pressões sociais por conformidade estética são exacerbadas. As palavras de Zygmunt Bauman em "Modernidade Líquida" (2000) ressoam, destacando como o capitalismo de consumo alimenta uma cultura de insatisfação constante, alimentando a busca incessante por uma estética idealizada e muitas vezes inalcançável.

    Num mundo cada vez mais conectado, as redes sociais emergem como uma arena onde as batalhas pela validação e aceitação são intensificadas. A obra de Sherry Turkle, "Reclaiming Conversation" (2015), mergulha nas consequências psicológicas da busca incessante por validação nas plataformas digitais, especialmente entre as gerações mais jovens, ressaltando como a ansiedade e a depressão podem prosperar nesse terreno virtual.

    O entrelaçamento entre padrões estéticos, pressões do capitalismo e a influência das redes sociais frequentemente desemboca em consequências sombrias para a saúde mental. A análise profunda do psiquiatra Thomas Joiner em "Por que as Pessoas Morrem por Suicídio" (2005) lança luz sobre as dinâmicas sociais que contribuem para o aumento alarmante das taxas de suicídio, evidenciando a pressão social como um fator determinante.

    A nomofobia, um fenômeno emergente, revela-se como o medo da desconexão digital, uma expressão contemporânea dos desafios psicológicos na era da conectividade. O olhar antropológico de Sherry Turkle em "Alone Together" (2011) destaca como a constante conectividade pode agravar a ansiedade e o isolamento social, adicionando um elemento adicional ao complexo cenário contemporâneo.

    Num contexto onde as dinâmicas intricadas de corpolatria, padrões de beleza, capitalismo, redes sociais, depressão, suicídio e nomofobia convergem, é vital contemplar abordagens abrangentes para preservar o bem-estar. A compreensão dessas interconexões incita uma reflexão crítica sobre as complexidades sociais contemporâneas, enfatizando a necessidade de soluções multidisciplinares para os desafios mentais enfrentados pela sociedade moderna  


 A relação intrínseca entre o vício em celular e a depressão revela uma dinâmica complexa na era da conectividade digital. O constante acesso aos dispositivos móveis, impulsionado pela nomofobia, cria uma realidade na qual as interações virtuais muitas vezes superam as conexões face a face. Essa imersão virtual intensa pode resultar em sentimentos de isolamento, inadequação e, eventualmente, desencadear ou agravar quadros depressivos. A incessante busca por validação nas redes sociais, aliada à comparação constante com os padrões estéticos idealizados, pode levar a uma espiral de autocrítica, solidão e, em última instância, contribuir para o desenvolvimento da depressão.

    Além disso, o vício em celular também está associado a alterações neuroquímicas que podem influenciar negativamente o estado emocional. A constante exposição às notificações, a pressão por estar sempre online e a dependência da validação digital podem levar a distúrbios do sono, aumento do estresse e desequilíbrios hormonais. Esses fatores, por sua vez, têm sido identificados como contribuintes significativos para a vulnerabilidade à depressão. Portanto, compreender a interligação entre o vício em celular e a depressão não apenas destaca os desafios contemporâneos enfrentados pela saúde mental, mas também enfatiza a necessidade urgente de abordagens equilibradas e conscientes para o uso da tecnologia digital.

    

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

O Palco Digital e a Fragilidade da Fama: Uma Crítica à Sociedade Espetacularizada

    

 Na era das redes sociais, onde o palco é digital e a busca pela fama é incessante, a análise crítica à sociedade contemporânea se aprofunda. Karl Marx, ao desvelar as complexidades do capitalismo, e Walter Benjamin, ao explorar a perda da aura nas reproduções técnicas, oferecem lentes aguçadas para compreendermos a transformação do ser humano em mercadoria simbólica no mundo virtual.

A alienação, outrora confinada às fábricas, assume novas formas nas redes sociais, onde a autenticidade é frequentemente eclipsada pela busca desenfreada por likes e seguidores. A sociedade de espetáculo, conforme observada por Guy Debord, se perpetua, mas agora, as representações digitais substituem a realidade, alimentando um ciclo vicioso de autopromoção e validação instantânea.

    O consumismo exacerbado, motor do capitalismo, encontra na busca pela fama uma expressão contemporânea. As redes sociais se tornam os novos mercados, onde a atenção é a moeda de troca, e a busca por reconhecimento é incessante. O risco inerente a essa dinâmica é a diluição da identidade em uma busca superficial por notoriedade, enquanto a essência é sacrificada no altar da visibilidade.

    A reflexão se estende ao declínio do nível de inteligência em meio à cultura do entretenimento instantâneo. A "idiocracia" descrita por Neil Postman se manifesta na valorização da popularidade em detrimento da profundidade intelectual. O acesso constante a estímulos superficiais nas redes sociais pode contribuir para a erosão do pensamento crítico, ameaçando a capacidade de discernir entre a substância e o efêmero.

    Assim, à medida que o palco digital se expande, a fragilidade da fama se revela. O convite à resistência emerge, incitando a sociedade a preservar a autenticidade, resistir à homogeneização das aspirações individuais e resgatar o pensamento crítico em meio ao espetáculo digital. Em última análise, o esforço para transcender a busca desenfreada pela fama efêmera pode ser o primeiro passo para uma renovação intelectual e social mais profunda.


 No enfrentamento da fragilidade da fama e da superficialidade nas redes sociais, emerge uma alternativa promissora: a transformação pela educação. Uma visão fundamentada em pensadores como Paulo Freire e Ivan Illich, que propõem a educação como instrumento de conscientização e libertação, apresenta-se como antídoto para a alienação digital.

    Paulo Freire, notório por sua pedagogia crítica, advoga por uma educação que transcenda a mera transferência de conhecimento e promova a conscientização dos indivíduos sobre sua realidade. Nesse contexto, a educação pode ser a chave para desvelar os mecanismos que perpetuam a busca desenfreada pela fama, estimulando a reflexão crítica sobre os valores propagados pelas redes sociais.

    Ivan Illich, por sua vez, questiona os sistemas institucionalizados de educação e propõe uma aprendizagem mais autônoma e descentralizada. Ao romper com a ideia de que a educação está confinada aos espaços formais, Illich destaca a importância de aprendizados que transcendam os limites da sala de aula, permitindo que os indivíduos construam conhecimento de forma significativa.

    A promoção de uma educação crítica e emancipadora oferece um caminho para contrapor a superficialidade da busca pela fama. O desenvolvimento de habilidades cognitivas, como o pensamento crítico e a análise reflexiva, pode fortalecer os indivíduos contra os estímulos efêmeros das redes sociais. A educação, quando direcionada para a formação integral, não apenas intelectual, mas também ética e emocional, cria uma base sólida para resistir à cultura do espetáculo.

     Além disso, a educação digital responsável deve ser parte integrante desse processo. Capacitar os indivíduos a discernir entre informações relevantes e superficiais, desenvolver habilidades de filtragem e promover uma consciência crítica em relação ao uso das redes sociais são aspectos essenciais para construir uma sociedade mais resistente aos apelos instantâneos da fama virtual.

    Portanto, a busca por uma nova possibilidade vai além da simples crítica, estendendo-se à construção de uma sociedade mais consciente e educada. Ao investir na formação integral dos indivíduos, a educação se apresenta como um poderoso instrumento para romper com a alienação digital, fortalecendo mentes capazes de resistir ao efêmero, buscando uma transformação profunda e duradoura.



sábado, 21 de junho de 2008

O luxo e o lixo: desejo, necessidade e vontade

Por Jessé A. Chahad

Em sua tentativa inovadora para a época, de estudar a civilização material, Fernand Braudel se propõe a estudar a produção e o consumo de alimentos que até então eram desprezados, por não serem considerados importantes na historia da humanidade, no que diz respeito a sua essencialidade para a sobrevivência do homem.
Para Braudel, os produtos considerados supérfluos devem ser abordados, pois o conceito de luxo será para ele fundamental no desenvolvimento do capitalismo e da sociedade consequentemente. Mesmo a idéia do luxo estando presente em civilizações imemoriais, Braudel acredita que após a Idade Média o comercio de produtos de luxo se intensifica, sendo apropriado exclusivamente pela camada aristocrática, criando assim mais um fator de diferenciação social.
De certa forma, este pensamento está em concordância com a tese de Henri Pirenne, que defende que mesmo durante o período medieval mais nefasto, ainda existia o comércio de artigos de luxo. Esses artigos seriam ainda mais valorizados com a descoberta de novos mercados fornecedores de especiarias e matérias primas na era moderna. A comédia do luxo praticada pelas classes dominantes seria depois reproduzida pelas massas, visto que os ricos são condenados (...) a preparar a vida futura dos pobres.
Braudel afirma que a propagação do luxo então seria nada mais do que a apropriação de excedente, em outras palavras, para a existência de tal fenômeno, seria preciso todo um arcabouço, solidificado após o feudalismo, que garantiria que a massa deveria trabalhar, ou seja, produzir o necessário, para sustentar a existência da necessidade do supérfluo.
A meu ver, se o homem é realmente filho do desejo e não da necessidade, não seria lógico ele menosprezar a sua sobrevivência em preferência ao supérfluo. Pelo contrario, apenas após a solução do que é vital, e com todas as necessidades biológicas suplantadas é que surge espaço para aquilo que não é necessário, a idéia da obrigatoriedade do conforto e do prazer obtido através da cultura material. A contradição existente entre a miséria e o luxo, estaria então tencionada a coexistir e através da História devemos problematizar essa coexistência.
Ao falar sobre o período de aumento e retração do consumo de carne na Europa, Braudel demonstra que durante a Idade Média se consumira mais carne do que na era Moderna, e que ainda se comparadas à algumas civilizações asiáticas, a Europa do ocidente poderia ser vista como privilegiada no consumo de carne, mas para além dos séculos XV e XVI, o luxo à mesa seria reservado a poucos.
Como tão amplamente analisado por Norbert Elias, o conceito de civilização foi sendo desenvolvido ao longo de centenas de anos, num processo de longa duração, e teve como função demonstrar que a sociedade ocidente era superior a oriental, constituindo-se esta noção como uma visão de si mesma.
Percebe-se como esta noção vai ganhar uma conotação diferente com a Revolução Francesa, pois agora, o processo civilizador vai ser considerado como algo concluído nos países mais desenvolvidos economicamente, que agora teriam a missão de levar esta civilização a paises menos desenvolvidos, ou seja, a estes territórios considerados inferiores, levariam o mais alto padrão civilizador já alcançado.
Neste momento, começa-se a idéia de tentar ver o desenvolvimento da humanidade através de estágios, na qual existiriam os povos superiores e os povos inferiores.
Durante o próprio século XIX, as novas teorias positivistas dariam o suporte científico a esta visão, o evolucionismo de Spencer e o darwinismo social, procuravam comprovar que as sociedades se encontram em diferentes estágios evolutivos, criando assim a dicotomia bárbaro/civilizado, na qual o homem branco constituir-se-ia como superior, estando no topo da pirâmide racial como o homem civilizado.
É importante lembrar que historicamente a humanidade se organiza de maneira desigual e, a partir do inicio do capitalismo e das sociedades de mercado, ela só prospera em alguns países em detrimento de outros. Enquanto alguns desejarem o supérfluo, não haverá como prover o necessário para todos, já afirmava Braudel.Em outras palavras, enquanto para uns o desejo de satisfazer a vontade do supérfluo é de suma importância, para a maioria tal possibilidade só é possível após a superação do que é realmente necessário para sua sobrevivência.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

O Cidadão e o Poliítico - Personagens da República Romana

Por Jessé A. Chahad

Ciente de todos os problemas que podem estar contidos nas formas tradicionais de se estudar as interpretações acerca do Mundo Clássico, e mesmo as implicações de se utilizar desses conceitos hoje debatidos, este trabalho não estará livre de possíveis anacronismos e poderá ser entendido como a proposta de um exercício de leitura crítica de algumas idéias apresentadas, quando possível fazendo descontruções, ou levantando novas questões pertinentes ao entendimento da proposta trazida.

Claude Nicolet, francês, é Historiador especialista em questões da República, e professor emérito da Sorbonne. É autor de três relatórios sobre a educação cívica para os ministérios da Educação (1984), da Defesa (1989) e do Ensino Superior (1996). Entre outras obras, podemos citar La République en France : état des lieux (1992) e Histoire, Nation, République, (2000).Segundo Nicolet, a constituição de uma República deve conter como fator indispensável a construção do conceito de cidadão, feita através de um sistema de educação que possa garantir a criação e o cumprimento de um corpo jurídico que teoricamente deve ser aplicado a todos.

A principio, podemos dividir o texto em quatro partes, que seguem a lógica do raciocínio utilizado pelo autor. Seu objetivo é determinar a importância de dois personagens ( o cidadão e o político) no processo de formação da República de Roma, se utilizando de documentos de caráter censitário, e também analisando decretos e publicações em busca de delinear a trajetória das duas figuras.
A primeira parte ( pág. 21 a 22) é uma breve introdução que muito tem a dizer sobre a tônica do texto. Nicolet toma como exemplo o processo da Revolução Francesa para demonstrar os problemas de se recorrer ao modelo de organização cívica da “República Romana” como exemplo a ser seguido na construção de um corpo político ideal e representativo. A apologia à vida citadina e à um sistema de educação são alguns conceitos presentes nos escritos de Tácito, Tito Livio, e Plutarco. Esses autores foram retomados pelos escolásticos, atravessando a Idade Média, e chegando aos tempos modernos do iluminismo, sendo celebradas por alguns pensadores que buscavam argumentos eficientes para a organização de uma vida política em processo de transformação.
O conceito de cidadania deveria ser interpretado de maneira que representasse a princípio um elemento de unidade entre o povo, fator necessário à nova ordem, a do nascimento ou construção dos Estados-nações. Citando passagem do texto, (...) os fundadores da liberdade moderna (entre os quais os jacobinos franceses) partiam à reconquista de uma Antiguidade perdida.
Seguindo a divisão proposta, na segunda parte do texto (pág. 22 a 30), Claude Nicolet vai tentar construir o conceito de cidadão e de cidadania, revelando as dificuldades que surgem ao tal definição, e a impossibilidade de se conseguir determinar de maneira conclusiva ou determinante qualquer tipo de conceito. Isso se evidencia na medida em que o autor apresenta de maneira extensiva as condições que permitem a classificação de um individuo como cidadão ou não, de acordo com o contexto do momento.
Diversas mudanças aconteciam quase sempre dentro da esfera que envolvia as obrigações civis que permitiam a prática da cidadania: os deveres militares e as guerras, a participação no sistema fiscal e político. Em suma, o papel de cada um dentro de um estatuto jurídico, uma comunidade de direito, e principalmente de interesses. Porém não devemos entender que se tratava de uma comunidade igualitária, e dentro dos argumentos apresentados estão marcadas as diversas hierarquias e diferenças sociais.
Seguindo seu argumento, na terceira parte, (pg. 30 a 45) o autor vai selecionar três aspectos da vida cívica, considerados fundamentais para a formação da cidadania: a atividade militar, a política, e a classe política. Ou seja, todo individuo educado militarmente que pudesse ser mobilizado, ou qualquer contribuinte que ainda pudesse se candidatar a uma função cível, integrando o corpo político, poderia participar, de forma limitada é claro, da vida da cidade, do sistema dito representativo.
A atividade militar exigia um contingente cada vez maior e desequilibrava as contas do estado, não só nas campanhas mal sucedidas, mas também na medida em que novas conquistas alargavam os limites territoriais e sobrecarregavam a arrecadação de tributos, a distribuição de terras como parte do soldo se tornou um problema a ser resolvido com a criação de um salário em moeda. As convocações periódicas gradualmente deram lugar a um exército permanente, profissional e proletarizado, a serviço de uma política imperialista (grifos meus, termos utilizados pelo autor).
A política era instrumento que funcionava de acordo com a hierarquia, e permitia através das assembléias, a soldados e contribuintes a participação de maneira efetiva no campo em que se travavam os debates e se reclamavam os direitos prometidos pelo sistema representativo. Os indivíduos considerados pobres, ou que não faziam parte de nenhuma agregação, como por exemplo, tribos ou centúrias, dificilmente encontravam meios de representação e simplesmente eram excluídos do processo de eleição. Mais um problema do modelo visitado pelos pensadores modernos.
A formação de uma classe política é tratada a parte pelo autor, e se faz necessária a construção da figura do homem político, que chega às vezes a se confundir com a própria noção de cidadão. As tradições patriarcais e oligárquicas instrumentavam a formação da classe política que aliada a um forte exercito, garantiria por um tempo a sobrevivência da República.
Na última parte, (pág. 46 a 48) o autor irá concluir seu pensamento, sugerindo que a partir destes preceitos basilares, deve se somar a condição natural, ou existencial do homem político romano, e as características que ela lhe impõe, e que também o definem. Além disso, nos leva a pensar nas conseqüências da formação deste sistema, que funcionou durante um período importante, mas que não impediu a queda da República.
Com isto, a leitura do texto nos leva a crer que mesmo com a utilização de arcabouços teóricos que pretendem eleger o modelo de sociedade civil romana como ideal a ser aplicado em outro contexto, esse preceito deve ser cuidadosamente colocado em dúvida. Todas as imperfeições do modelo, que o autor nos traz, têm como objetivo também demonstrar que não existe um molde ideal para a formação de uma República. E ainda, que a noção de liberdade não está associada necessariamente ao conceito de república, ou ainda se quisermos de democracia. Esse fator confirma a imprevisibilidade da História, que não pode ser construída a partir de experiências anteriores.
A diferenciação entre homem romano e o cidadão romano feita por Nicolet ao decorrer de seu trabalho, mostra também que o a quantidade de cidadãos em Roma, sempre era bem inferior ao número de homens comuns, evidencia de que por mais participativo que o sistema se propunha a ser, era na verdade uma minoria que estava efetivamente no controle das decisões. Fator que mostra uma sociedade de privilégios, desigualdades e conflitos internos por poder, que também fizeram eco na modernidade. E por que não na contemporaneidade?