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terça-feira, 26 de dezembro de 2023

De Janeiro a Janeiro : o calendário romano e sua origem

por Jessé Chahad


"A passagem do tempo é inexorável, e em sua busca por ordem e organização, as civilizações antigas deram origem a sistemas calendáricos que moldaram a maneira como percebemos e medimos nossas vidas. No epicentro desse esforço está o Calendário Romano, uma criação que ecoa através dos séculos, marcando uma era de conquistas e transformações.

A mente brilhante de Cícero, orador e filósofo romano, reflete sobre a importância da temporalidade, afirmando que 'o tempo descobre todas as coisas'. Essa constatação ressoa especialmente ao considerarmos a inventiva dos romanos ao criar um calendário que buscava capturar e estruturar a complexidade dos ciclos astronômicos.

    O filósofo estoico Sêneca, por sua vez, observa que 'não temos vida curta, mas a fazemos ser assim'. Essa noção de dar forma ao tempo é encapsulada na arquitetura do Calendário Romano, um sistema que simboliza a capacidade humana de moldar e domesticar o tempo em sua busca pela compreensão do cosmos.

    O historiador romano Tácito nos adverte sobre os perigos da ignorância histórica ao proclamar que 'a história é a testemunha do passado, a luz da verdade, o mestre da vida'. Ao examinarmos a invenção do Calendário Romano, somos guiados por essa luz da verdade, compreendendo como a sociedade romana percebia a importância de controlar o tempo para forjar uma identidade coesa e duradoura.

    O poeta romano Ovídio, em sua obra 'As Metamorfoses', ressalta a fluidez do tempo ao afirmar que 'nada é constante, exceto a mudança'. Entretanto, paradoxalmente, a criação do Calendário Romano buscou introduzir estabilidade e previsibilidade na contagem dos dias, estabelecendo uma âncora no oceano inconstante do tempo.

    Assim, ao contemplarmos a invenção do Calendário Romano, somos instigados a refletir sobre nossa própria relação com o tempo e a percepção que temos da passagem dos dias. Nas palavras de Sêneca, 'não é que tenhamos uma curta vida, mas a tornamos curta'. O Calendário Romano, produto da engenhosidade de uma civilização que transcendeu sua própria época, permanece como um legado duradouro, testemunhando a habilidade humana de dar forma ao efêmero e fazer com que o tempo, de alguma maneira, seja eterno."

A celebração do Ano Novo é uma manifestação universal que transcende fronteiras, culturas e tradições. Em diferentes partes do mundo, as festividades são marcadas por rituais distintos, costumes variados e significados singulares, refletindo a diversidade da experiência humana.

Na China, a chegada do Ano Novo Lunar é recebida com o espetacular Festival da Primavera. As ruas ganham vida com desfiles coloridos, danças de leões e dragões, fogos de artifício e refeições em família. O evento é uma oportunidade para renovar laços familiares e afastar os maus espíritos.

No Japão, a passagem de ano é marcada pelo Hatsumode, uma visita aos templos xintoístas para fazer orações e obter amuletos de boa sorte. O som dos taikos (tambores) ecoa à meia-noite, enquanto as pessoas participam de cerimônias tradicionais e desfrutam de pratos culinários especiais, como o ozoni, uma sopa de ano novo.

Na Índia, o Diwali, ou Festival das Luzes, é também uma ocasião para celebrar o início do ano novo em algumas regiões. As casas são decoradas com lamparinas, fogos de artifício iluminam o céu e as famílias se reúnem para compartilhar refeições festivas e trocar presentes.

Na Escócia, a festa de Hogmanay é uma das maiores celebrações do ano. Os escoceses recebem o novo ano com entusiasmo, participando de eventos públicos, danças e queimas de fogos. Uma tradição conhecida como "First-Footing" envolve visitar amigos e familiares logo após a meia-noite, levando presentes como símbolos de boa sorte.

Nos Estados Unidos, a Times Square, em Nova York, é palco de uma das celebrações de Ano Novo mais icônicas. Milhares de pessoas se reúnem para assistir à descida da famosa bola de cristal à meia-noite. Em outras partes do país, festas privadas, fogos de artifício e brindes são comuns.

O Brasil é conhecido por suas festas animadas, especialmente nas praias, onde as pessoas vestem branco para simbolizar a paz e jogam flores no mar como oferenda a Iemanjá. A queima de fogos nas praias de Copacabana, no Rio de Janeiro, é um espetáculo famoso em todo o mundo.

    Independentemente das tradições específicas, a comemoração do Ano Novo une as pessoas em um espírito de renovação, esperança e otimismo. É um momento para refletir sobre o passado, celebrar as conquistas e antecipar o futuro com entusiasmo, independentemente de onde no mundo a contagem regressiva seja realizada.

    A     nomenclatura dos meses do ano é uma fascinante jornada através da história, permeada por influências culturais, mitológicas e até mesmo observações celestiais. Cada nome carrega consigo um legado que remonta a civilizações antigas e reflete a forma como nossos ancestrais percebiam e organizavam o tempo.

    Janeiro, o mês inicial, presta homenagem a Jano, o deus romano das portas e passagens. Este deus é representado com duas faces, olhando para o passado e para o futuro, simbolizando a transição de um ano para o outro.

    Fevereiro tem origens no festival romano chamado Februa, que envolvia rituais de purificação e limpeza. O próprio nome sugere uma conexão com a purificação, uma prática comum nesse período do ano.

    Março, o terceiro mês, deriva do deus romano Marte, associado à guerra e à primavera. A escolha do nome ressoa com a renovação da natureza e o despertar das atividades militares na primavera.

    Abril tem origens na palavra latina "aperire", que significa abrir. Este é o mês em que as flores desabrocham e a primavera se revela em toda a sua exuberância, representando um momento de renascimento.

    Maio é dedicado à deusa romana Maia, associada ao crescimento das plantas. Este é um período de fertilidade e abundância, simbolizando a natureza florescente.

    Junho recebe seu nome de Juno, a deusa romana da fertilidade e do casamento. O mês era considerado propício para as cerimônias matrimoniais, marcando o início da temporada de casamentos.

    Julho e agosto foram renomeados em honra aos imperadores romanos, Júlio César e Augusto César, respectivamente. Júlio César influenciou a inclusão de um novo mês no calendário, julho, enquanto Augusto adicionou um dia ao mês que levava seu nome para igualar a duração de julho. Ambos os imperadores eram figuras proeminentes na história romana.

    Setembro a dezembro, por sua vez, têm raízes em palavras latinas que denotam ordem numérica. Setembro, por exemplo, deriva de "septem", que significa sete, indicando sua posição original no calendário romano.

    A evolução dos nomes dos meses é um testemunho da interação entre a cultura, a mitologia e as observações astronômicas ao longo dos séculos. Essa tapeçaria de influências oferece um vislumbre não apenas da passagem do tempo, mas também da riqueza da imaginação humana ao dar significado aos períodos que moldam nossas vidas.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Feliz Natal, Salve Jesus, Krishna e Mithra

Por Jessé Chahad

O Natal, uma festividade amplamente celebrada, carrega consigo uma rica tapeçaria de influências que se entrelaçam ao longo da história. Sua relação com festivais pagãos, o nascimento do sol, o solstício de inverno, as figuras religiosas de Jesus, Krishna e Mithra revela uma trama cultural complexa.

Os festivais pagãos, como Saturnália e Yule, desempenharam um papel crucial nas origens do Natal. Saturnália, celebrada pelos romanos em honra ao deus Saturno, era marcada por banquetes, presentes e uma atmosfera de alegria coletiva. Similarmente, Yule, comemorado pelos povos germânicos, coincidia com o solstício de inverno e celebrava o renascimento do sol.

O solstício de inverno, ponto em que o hemisfério norte atinge sua noite mais longa e o dia mais curto, foi significativo em muitas tradições pagãs. A escolha da data de 25 de dezembro para o Natal pode ter sido estratégica, sobrepondo-se a esses festivais pagãos e cristianizando a celebração do renascimento da luz.

No contexto cristão, o Natal é associado ao nascimento de Jesus Cristo em Belém. O relato bíblico descreve a chegada do Salvador, anunciada por anjos e testemunhada por pastores. Embora a Bíblia não especifique a data, a celebração do Natal foi estabelecida pela Igreja para celebrar a encarnação de Jesus.

Paralelamente, em outras tradições religiosas, encontramos histórias de nascimentos divinos e figuras messiânicas. Krishna, uma divindade hindu, é descrito como uma encarnação do deus Vishnu, nascido para restaurar a ordem cósmica. Mithra, uma figura venerada no culto misterioso romano, também era associado ao sol e ao renascimento.

Ao explorar essas narrativas, percebemos sobreposições simbólicas. O sol, como símbolo de luz e vida, é central em muitas tradições, tanto pagãs quanto religiosas. O renascimento do sol durante o solstício ecoa metaforicamente nas histórias de nascimentos divinos, incluindo a de Jesus.

Em última análise, o Natal emerge como uma celebração complexa, tecida com fios que se estendem por culturas e religiões diversas. Suas raízes pagãs, ligadas ao solstício de inverno, se entrelaçam com a narrativa cristã do nascimento de Jesus, enquanto paralelos podem ser encontrados em figuras religiosas de outras tradições. O Natal, assim, transcende fronteiras e reflete a universalidade do anseio humano por luz, renovação e esperança.

domingo, 4 de setembro de 2022

O Escriba e o legado da escrita no Antigo Egito


O Escriba, de Alessandro Roccati, que constitui o terceiro capítulo do trabalho organizado por Sérgio Donadoni, O Homem egípcio, obra que traz estudos de diversos especialistas, retrata a sociedade antiga do Egito a partir da análise de figuras humanas essenciais como o Sacerdote, o Escriba, o Faraó, entre outros.
O desafio é enorme se considerarmos que para o estudo de um período tão distante na cronologia, existam não mais do que fragmentos que procuramos, à luz dos debates atuais, interpretar e entender os aspectos únicos de uma sociedade hierarquizada e bastante organizada dentro dos seus próprios conceitos.
O Escriba será objeto de estudo de Roccati, com o objetivo de demarcar as características que diferenciavam esta categoria da dos indivíduos comuns, a fim de demonstrar a complexidade das relações sociais e políticas do período. Para isso será necessário definir quem era o Escriba, e quais eram suas funções e deveres dentro do sistema de classes e ao longo da passagem do tempo. Além disso, ele se dedica a aspectos de caráter pessoal e intelectual da figura do escriba em sua construção.

Alessandro Roccati, italiano, é graduado em Letras pela Universidade de Roma e com apenas 26 anos já obtivera especialização em Egiptologia em três importantes instituições, entre elas Oxford. Curiosamente seus primeiros trabalhos se iniciaram apenas após sua permanência de dois anos no serviço militar.
Sempre vinculado a museus, procura estudar os papiros, manuscritos, epígrafes, túmulos. Participa de escavações arqueológicas e publica diversos trabalhos dedicados à história da cultura egípcia antiga, sua literatura, seus elementos de linguagem e as características do seu cotidiano em diversos contextos históricos.


Se procurarmos na estrutura do texto fazer uma divisão a fim de facilitar seu entendimento, criaremos na verdade um problema. Apenas a separação necessária entre a introdução acerca do que se trata o estudo, os argumentos defendidos e a conclusão, é utilizada para garantir a fluência, coesão e unidade ao texto. A trajetória da figura do escriba é relatada em diversos momentos do Egito Antigo, destacando em cada período a sua significância e a sua relação com o poder. Isso nos leva a considerar que escrita então, torna-se objeto inseparável de um estudo que se propõe a tratar do Escriba.

Para um especialista em letras clássicas egípcias como Roccati, fica difícil não deixar transparecer em suas palavras, quase que uma apologia à escrita, e mostra como ela se difundiu, e foi utilizada dando exemplos que remetem aos 2º e 3º milênios.
A associação entre língua e escrita era necessária às práticas religiosas e rituais, que conferiam a alguns escribas um caráter quase mágico que o autor explica quando tenta definir o papel do que chama de sacerdote leitor. A leitura ritual, dos textos sagrados requeria a habilidade não só do conhecimento da escrita, mas principalmente a capacidade de interpretação dos signos, que em sua forma gráfica ou lingüística poderiam apresentar significados diferentes se não fossem lidos com destreza.



Se quisermos cometer um anacronismo, podemos comparar as dificuldades do sacerdote leitor ao interpretar os textos sagrados tão distantes no tempo com os problemas correntes da Arqueologia que através de poucos vestígios legados por tempos ainda mais distantes, tentam novas teorias e releituras em busca de equívocos, ou ao menos de novas possibilidades de entendermos aquelas escritas a partir das inovações e descobertas da Lingüística.
Apesar de a condição de escriba se considerada fator de diferenciação social em relação a homens que não liam ou escreviam, a classe estava sujeita a hierarquia interna que se formava de acordo com os níveis de conhecimento e de utilização da escrita. O autor cita como exemplo, os hieróglifos do túmulo de Djau, em Abidos (finais da 4º dinastia, aprox. 2200 a.C.), que revelam que Djau foi escriba dos rolos divinos e era chefe dos que escreviam actas regias, além de ser sacerdote leitor. Em tempos em que estado e religião se fundiam a busca do conhecimento era necessária para ascensão e participação ativa no processo.



De menor importância na hierarquia, mas participativos no funcionamento da sociedade estavam os escribas que apenas podiam ler os números, ou dominavam a escrita de maneira simples, necessária para contabilidade. O registro dos rendimentos propiciava o inventariado dos produtos, e principalmente a distribuição de recursos. A profissão de escriba passa então a ser ambicionada por permitir estar ao lado do corpo administrativo, seja econômico ou religioso, e aproxima o escriba das classes superiores, dos funcionários e sacerdotes, e certas vezes mesmo após sua morte teria garantido certo privilégio ao lado dos deuses.



Ao deixar de lado a questão das funções do escriba, o autor se interessa em trazer aspectos de caráter pessoal em sua construção da figura do escriba. Talvez nem todos gozassem de conhecimento e intelectualidade notável, a maioria talvez apenas reproduzisse mecanicamente os ensinamentos aprendidos. Mas interessa a Roccati a idéia de que cada vez mais o conhecimento trazia intelectualidade, e a escrita, e a leitura fecundariam o embrião que viria a formar a futura classe administrativa dominante de magistrados. Claro, guardadas as proporções de mobilidade social, era inevitável que o conhecimento da escrita era requisito mínimo e cada vez mais importante, se difundindo e multiplicando suas formas de maneiras diversas no longuíssimo tempo.

Podemos pensar a partir de uma passagem do texto, uma citação que segundo o autor vem confirmar um antigo conceito (...) de que a escrita é mais duradoura do que a pedra com que foram construídas as pirâmides e que por isso, quem a sabe utilizar está mais seguro do que as múmias que foram encerradas em suntuosos sepulcros. Devemos lembrar que apesar de sólida, a escrita que até hoje nos é fundamental não se apresenta em blocos, como os das pirâmides. A escrita, como a língua é orgânica e sofre diversas modificações de acordo com o contexto, a cultura e a própria passagem do tempo.
A importância da escrita, e sua transformação de instrumento do Estado a objeto de conhecimento pessoal do escriba, não configuram um deslocamento de sua função, mas talvez a busca de ascensão em uma sociedade marcada fortemente pelas desigualdades e pouca mobilidade. Alessandro Roccati, especialista em línguas, literatura, cultura tece suas teorias dentro de uma esfera acadêmica, fruto de uma sociedade em que a ascensão social é possível através da busca de conhecimento. A cultura da meritocracia pode ou não ser um reflexo dos tempos Antigos, afirmação que talvez jamais venhamos a confirmar, porém influencia a construção da imagem do escriba feita pelo autor no texto.

Dentro de uma sociedade que pretende ser funcional, onde cada figura tem o seu papel, a intenção do texto é mostrar que na antiguidade podemos encontrar subsídios para afirmar que o lugar dos intelectuais, daqueles que tem o conhecimento, é destacado do comum, e sempre está aliado ao poder. Deter o conhecimento nos dias de hoje é deter uma forma de poder sobre os demais, e como só podemos entender o passado a partir das formulações de hoje, não podemos tomar nenhuma construção como fiel, ou definitiva, seja do escriba, seja do funcionário.















Exemplo de papiro egípcio datado de mais de 5.000 anos

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Utilidade da História: existe?

                                                                                  Por Jessé A. Chahad

Maquiavel certa vez decidira que deveria tecer uma “comparação entre fatos antigos e contemporâneos, de modo a facilitar-lhes (aos homens) a compreensão. Deste modo, meus leitores poderão tirar daqueles livros toda a utilidade que se deve buscar no estudo histórico” [1]. Inicialmente devemos entender que para Maquiavel, conduzido pelas tendências liberais de sua época, produzir uma utilidade para o estudo de História, seria o uso racional do estudo do passado, a fim de que não se cometessem os “mesmos erros” que haviam sido cometidos.
A busca pela melhoria da sociedade através da melhoria dos indivíduos deveria contar com as lições aprendidas sobre fatos históricos, incorporando uma produtividade e uma objetividade necessária a quase todas as questões modernas e contemporâneas. Niestzche afirma que a utilidade, ou valor de uso da história residiria no fato de que “Ele ( o homem) aprende com isso( história) que a grandeza, que existiu uma vez, foi, em todo caso, possível uma vez e, por isso, pode ser que seja possível mais uma vez; segue com ânimo sua marcha, pois agora a dúvida, que o assalta em horas mais fracas, de pensar que talvez queira o impossível é eliminada.[2]
A crítica é direcionada ao culto que os modernos demonstravam para com a Antiguidade Clássica, se referindo as civilizações ocidentais greco-romanas e seus feitos sempre glorificados e louvados de forma a serem tidos como referencial para uma sociedade teoricamente perfeita, que deveria ser tida como exemplo. A Historiografia do início do século XX nos remete ao trecho citado, se lembramos que Fustel de Coulanges em seu esforço de confirmar a existência de uma utilidade para a História, lembra Maquiavel com ressalvas ao afirmar que a “a história não resolve problemas: ela nos ensina a examiná-los (...) como é preciso agir para observar os fatos humanos” [3].
A busca pela verdade era fundamental para a criação de uma utilidade para a História e encontrava barreiras nas narrativas que mitificavam o passado antigo e escondiam seus defeitos e erros, em uma verdadeira operação ideológica que agia em favor da civilização européia ocidental e seus objetivos imperialistas em relação a entre outros feitos, as investidas no ultramar. Este excerto de Marx resume bem a reflexão acerca deste fenômeno: “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob as circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em revolucionar-se a si e as coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes de empréstimo os nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de apresentar a nova cena da história do mundo nesse disfarce tradicional e nessa linguagem emprestada[4]
Francisco Murari nos lembra que desde Tucídides e seu relato sobre a Guerra do Peloponeso, a mitificação do passado, ou do indivíduo deve ser evitada, pois desviaria o objetivo maior, o relato da verdade: “Por tais modos narrativos, consagrados por poetas e logógrafos, a narração de histórias sujeitava (e perdia) sua finalidade enquanto memorização de feitos humanos ao sacrificar a expressão da verdade dos acontecimentos em prol da fruição do que era do agrado do público presente a quem fossem contadas. Ordenação da narrativa das ações dos homens pelos efeitos do mito que frustra a valia de suas histórias fazendo desvanecer, pelo deleite fugaz do presente, o alcance perene a que a memória humana almeja por (i)mortalidade.”
Se utilizarmos um anacronismo a nosso favor, poderemos relacionar o modo narrativo mitificante criticado por Tucídides ao modo de narrativa utilizado pelo cinema de Hollywood para agradar seu público e que por diversas vezes se valendo de seu caráter artístico refaz à sua maneira diversas passagens históricas, momentos estes que detém esta alcunha por serem freqüentemente considerados significativos para a mudança da sociedade através dos tempos e que ganham novas leituras, novos significados, e procuram servir a um determinado interesse ideológico e / ou comercial.
Na contramão desta tendência, podemos citar os filmes do diretor americano Clint Eastwood, Letters from Iwo Jima e Flag of our Fathers .O ator que antes era tido como o estereotipo de Dirty Harry deu lugar a um diretor que traz em seus filmes questões dramáticas recheadas de simbolismos e forte apelo emocional, porém sem recorrer ao sensacionalismo. Eastwood parece se utilizar da credibilidade obtida com sua carreira irretocável para atingir o senso comum do público, neste caso com dois filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, especificamente sobre os conflitos travados no Pacífico entre Estados Unidos e Japão. Com um filme falado em inglês e outro em japonês, fica evidente a intenção de situar cada narrativa sob um ponto de vista, ignorando que o fato de que a versão da história contada pelo foco dos japoneses produzida por um americano poderia ser tendenciosa.
Longe de tentar fazer julgamentos, não devemos colocar em dúvida o fato de que o diretor sabia que não era isento ao olhar o passado, e não poderia ter a visão direta do passado, preterida pelos modernos, desejo reforçado mais tarde pelos que buscaram uma verdade histórica e imparcial, praticamente inexistente na realidade. Eastwood mostra que o bem e o mal são duas faces da mesma moeda, ou se quisermos ambos os conceitos existem como trazidos na Ilíada, dentro de um caldeirão onde saem de lá em pares, em outras palavras são inseparáveis, o bem sempre traz consigo algum mal e vice-versa, como também já apontou Maquiavel. Antigos, modernos e contemporâneos se sobrepõem e se confundem na tentativa de explicar dois conceitos aparentemente simples, mas de complexidade histórica.
No final do filme o protagonista já não mais foge do inimigo americano, e sim de seus próprios companheiros. Derrotados, os japoneses acreditam ser heróis ao se suicidar, ou melhor, “morrer lutando”, como traz o filme, e certamente já ouvimos relatos sobre os pilotos kamikaze, sopro divino, que se projetavam contra divisões inteiras do inimigo, se sacrificando pelo bem maior, criando o mito do herói de guerra, por sua vez remetendo a própria antiguidade japonesa.
Ao recusar tal tradição, a personagem se depara com a inversão automática de valores, e a rendição aos americanos, que afinal não podem ser tão ruins assim, parece opção razoável para fugir da ameaça de seus companheiros suicidas. Bem e mal se confundem, e ao conseguir escapar das cavernas e trincheiras onde a morte era certa, a busca pela sobrevivência acima de tudo, o leva a se render aos americanos, agora portadores dos princípios do bem, do novo mundo, da civilização ocidental, gloriosa e portadora da liberdade, inspirada no mundo clássico greco-romano. Ao ser capturado, porém o personagem é executado sumariamente, de maneira usual, é desprezado o seu desejo de rendição; Sua morte traz a idéia novamente de que não existem bem ou mal, e sim os dois juntos, de acordo com o prisma pelo qual procuramos os iluminar.
No outro episódio, Flags of our fathers, Eastwood traz a mitificação do passado histórico através da circulação de uma fotografia produzida durante a guerra. A imagem obtida pelo correspondente de guerra Joe Rosenthal é uma fotografia tida como documental, e figura hoje em diversos volumes sobre a Segunda Guerra, e tem status de representação oficial da conquista de um determinado monte por parte das tropas americanas. Virou um monumento fúnebre, muito visitado por veteranos, em dos cemitérios que mais contem baixas de guerra nos Estados Unidos.
Porém, o filme demonstra que o contexto da imagem foi produzido de maneira diferente do que mais tarde foi circulado de maneira intensiva pela imprensa norte – americana. A construção de imagem heróica daqueles soldados empunhando a fincando no solo a bandeira americana foi utilizada como instrumento para convencer a sociedade de que poderiam vencer a guerra, e serviu como fôlego extra para uma retomada de combates, com mais vigor, pois lutavam do “lado do bem”. A mitificação da conquista americana esconderia as carnificinas executadas pela marinha, e principalmente pelos bombardeios de napalm, responsáveis pela destruição física de mais de 40% do território japonês.
De certa forma, o olhar que Eastwood lança ao criar uma narrativa de cunho histórico, este de acordo com o olhar tucididiano, que “volta a plenificação de sua valia para o futuro, quer imediato quer longínquo, porque os homens desta temporalidade a reconheçam no presente de suas ações”. Mais uma vez voltamos a uma utilidade atribuída ao estudo histórico.
A crítica feita pelo diretor é produzida em um momento em que o seu país, se julga mais do que nunca, o representante do mundo do bem, dos ideais invejáveis e gloriosos, que foram introjetados em diversas culturas mundo afora, sob forma de conquistas bélicas, impondo a democracia e a liberdade, estas forjadas à sua maneira, escondendo interesses comerciais e produzindo anomalias históricas, como a tentativa de destruição do mundo islâmico.
Para estabelecermos uma comparação, um outro filme que vai contra a produção de mitos, é Diário de motocicleta, dirigido pelo brasileiro Walter Salles. O diretor relata um período da vida de Ernesto Guevara, El “Che”. Ao invés de criar um herói de guerra, Salles cria uma narrativa em que o protagonista ainda jovem e antes de se dedicar a luta armada pela revolução, é retratado como um estudante de medicina, caridoso e dedicado, que se mistura aos pobres e leprosos, em busca de curá-los, como Cristo. A desmistificação da imagem que permaneceu após a Revolução Cubana, de um Che Guevara líder heróico que comandou a vitória à custa de métodos violentos, dá lugar à criação de uma outra imagem, que por sua vez reside na característica humana do agente histórico mais influente na visão dos historiadores modernos: o individuo.
Por detrás da sólida carapaça criada pela historiografia que procurou durante muito tempo trabalhar a história através da produção de mitos, a fim de produzir e determinar valores para a sociedade atual, reside a instabilidade e a especificidade inerente a cada ser humano, e sua historicidade não deve ser desprezada, assim como a história das mentalidades deve ser enfatizada na busca de um maior entendimento sobre os fatos ocorridos nas sociedades do passado. Benedetto Croce radicaliza a questão, afirmando que toda história é contemporânea, pois todo o interesse depositado em seu conhecimento é causado por um “interesse da vida do presente”[5].A História Magistra Vitae, conceito difundido e estudado nas academias é presente desde o período clássico até os dias de hoje.
Cinema e História: O Filme e suas possibilidades
No campo do ensino da História, os filmes de cunho histórico são fontes inesgotáveis de possibilidades de propor discussões e provocar a reflexão no estudante.
Se considerarmos que o caráter visual da sociedade atual se sobrepõe aos demais sentidos na percepção e no entendimento da realidade, é razoável a afirmação de que o Cinema é atraente e atinge quase em sua totalidade o dia a dia do estudante, seja do ensino regular ou mesmo superior. A partir da exibição de filmes que trazem em seu conteúdo fatos históricos a serem estudados nos programas tradicionais, o profissional dedicado ao ensino de História consegue ao menos atrair mais atenção para o assunto, o que já é desejável em tempos de tão grande desinteresse pelo estudo por parte dos alunos.
O papel do cinema como formador de opinião, assim como o papel do mercado no sentido de se criar um imaginário e sua mercantilização estarão inseridos no contexto do trabalho, procurando assim encontrar um sentido na produção de obras de acesso ao público em geral que procuram criar um universo mitológico, às vezes maniqueísta e que pode servir aos interesses das grandes empresas, e é de importância do estudo dos historiadores, pois toca na questão da mercantilização do ensino, no sentido de transformar um pedaço da historia em um produto.
A partir deste primeiro momento, a intenção seria realiza debates acerca do assunto trazido pelo filme, e como os fatos foram tratados, a fim de identificar possíveis interpretações e pontos de vista expressos por detrás das imagens, suscitando a curiosidade que levará naturalmente à pesquisa sobre o tema. O filme não seria abordado artisticamente, mas como produto, imagem-objeto que procura compreender não só a obra, mas a realidade que ela representa[6].
A tão criticada indústria cinematográfica hollywoodiana serve de exemplo não apenas por dedicar tantos recursos à produção de filmes “históricos”, que abrangem a sua própria História recente, além de atingir temas Clássicos, como a Guerra de Tróia, ou ainda Rei Arthur, que de longe procuram se inserir no caráter do cinema real, de fidelidade, mas buscam a verossimilhança em suas narrativas, que são sucessos de bilheteria e despertam de alguma forma, por menos louvável que seja, o interesse sobre temas históricos.
Uma questão a ser levantada, por exemplo, pode ser o fato de como algumas lideranças mundiais se apropriam de valores, como a liberdade, igualdade e democracia, e, além disso, constrói uma nova significação destes valores, a fim de justificar um propósito, como no caso da Segunda Guerra, a necessidade da emergência dos Estados Unidos como potência militar e econômica, que deveria liderar o mundo com seus ideais de justiça e libertação.
Sobre a relação entre história e cinema, Marc Ferro nos diz que o cinema tem o poder de se situar a serviço de uma causa, de uma ideologia, explicitamente ou sem colocar abertas as questões, e por isso seria objeto de desejo de controle pelo Estado que procura dominá-lo a seu favor, talvez como elemento formador de opinião. Para o autor, os filmes operam com um modo de ação eficaz e dependem tanto da sociedade que produz o filme, quanto da que o recebe. O autor afirma que tanto as civilizações ocidentais como as orientais tiveram atitudes claras de tentativa de controle do cinema como instrumento de formação de opinião, e cita o exemplo de que em 1975, a exibição de um filme letão na ex-ORTF ( Office de Radiodiffusion-Television Française ) sobre campos de concentração na então União Soviética, o que causou uma intervenção imediata do Partido Comunista Francês. [7]
Ainda hoje podemos identificar essa prática na sociedade norte-americana, altamente militarizada e sempre disposta a endossar um conflito, uma invasão de um país qualquer que não dê liberdade ao seu povo, que não exerça a democracia. Por outro lado, os verdadeiros motivos que deflagram a maioria dos conflitos desde a Primeira Guerra, são quase sempre relacionados às questões de territorialidade, em outras palavras, à conquista e dominação de territórios que dispões de recursos estratégicos, ligados a algum setor da economia.
A produção de filmes de guerra é quase concomitante com a produtividade da indústria bélica estado-unidense, e ambas aumentam seus lucros, e renovam suas tecnologias de maneira impressionante, que nos levam a crer que a relação entre Cinema e História está muito mais presente no dia a dia do que podemos imaginar, e que a construção da memória de um povo, mais ainda, a construção de um senso moral comum de justiça e caráter, passa pelo crivo da indústria cultural e com ela se entrelaça, pois fazem a cultura visual e a sociedade personagens de um mesmo longa metragem.
Sabemos que os filmes não têm a obrigação de serem fiéis à história, porém em um artigo publicado em 1982 na Revista “Médiévales”, François-Jérôme Beaussart faz uma crítica acerca de Excalibur e diz perceber no filme cenas ridículas e fora de época, o que significa uma construção errônea feita sobre o período, o que pode nos ajudar a entender o motivo de sua produção. Diz ele: a reconstituição de dança medieval, que apresenta enormes cavaleiros passando sobre seus ombros largos frágeis senhoritas durante uma espécie de ‘be-bop’ endiabrado. [8] Ou ainda, a ridícula prestação coreográfica que a pobre Igerne, obrigada a executar uma dança provocante e lasciva sob o olhar lúbrico de cavaleiros bêbados, que Beaussart qualifica como um número de music-hall que não teria envergonhado as Salomés dos estúdios da Metro-Goldwin.[9]
Para os historiadores, mais útil do que condenar a presença de duendes e dragões, personagens comuns em filmes que remetem à Idade Média, é explorar a potencialidade deste tipo de documento, e como ele pode ser útil para a produção de conhecimento. Assim considerando, uma utilidade para a História poderia ser produzida a partir da proposta de reflexão acerca dos fatos que mais chamam a atenção da sociedade na longa duração. A indústria cinematográfica enxerga essa utilidade possibilitada pela História, e com diversos interesses traz fatos do passado para serem revistos, e à sua maneira participa ativamente da relação entre o individuo e a história, relação importante para entendermos os humanistas da era moderna.

Humildes conclusões.
A partir do debate aqui suscitado por alguns temas destacados do curso, procurou-se demonstrar que apesar de todas as ressalvas, não podemos atribuir uma utilidade fundamental representada pelo estudo da história. Refletimos sobre algumas questões que procuram definir essa utilidade, ou fazer apologia a ela.
Independente de existir uma utilidade única ou principal para a prática do estudo do passado, será razoável admitir que a utilidade da História não resida em si mesma, nem talvez no fato de podermos aprender com erros do passado a fim de evitá-los no futuro. A utilidade é produzida pelo próprio contexto construído por quem a produz. Em outras palavras, “fazer história é contar uma história” [10]. A superação da história – narrativa pela história-problema não se define por um objeto de estudo, mas sim por um tipo de discurso.
Se quisermos ser audaciosos em nossa analise, poderemos atentar que há milênios o homem vem se perguntando se pode aprender com o passado a ter uma vida melhor no futuro. O tempo passou, e os erros históricos se repetem e se multiplicam pela humanidade, levando a uma instabilidade talvez inédita dentro deste período.Seria inocência de nossa parte acreditar que o homem não consegue aprender com seus erros. A questão pode ser : ele quer parar de cometer esses erros históricos? Ou ainda: serão esses equívocos considerados erros por quem os pratica, ou cabe àqueles que sofrem com as conseqüências de sua prática apontá-los, a fim de que não se repitam?
O que tentou ser demonstrado aqui foi que a busca pela mitificação do passado, através da glorificação de momentos históricos e criação de heróis esteve presente tanto nos antigos quanto nos modernos. No que convencionamos chamar de contemporaneidade, encontramos vestígios que confirmam essa intenção. Os documentos produzidos pela sociedade atual, sejam visuais, ou de outra natureza devem ser problematizados pelo historiador na medida em que não estão livres das ações históricas sofridas pelo homem, o seu agente de modificação mais determinante.
Se a história tem uma utilidade, alguns setores da sociedade já se apoderaram dela, porém cada qual criando a sua própria utilidade para ela. Cabe aos historiadores talvez o papel de identificar esses usos da história, e e estudar como isso influência na formação da sociedade, dentro do seu tempo respectivo, e comparar com ponderação com algum fato do passado histórico. Mas não pela busca da verdade, como preteriam os modernos, pois o conceito de verdade é deveras delicado para ser tido como dogmático. Mas sim , pelo interesse na produção de conhecimento e proposta de reflexão, tentando entender melhor o homem, pois este na condição humana é imperfeito e está distante do mundo idealizado e glorioso idealizado sempre por um passsado inatingível a ser atingido.











Bibliografia
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CERTEAU, Michel de. A operação historiográfica in: A escrita da História. Tradução de Maria de Lourdes Meneses, Rio de Janeiro, 1982.

CHARNEY, Leo & SCHWARTZ (orgs), Vanessa R. O cinema e a invenção da vida moderna, Cosac & Naify, São Paulo, 2001.


COULANGES, Fustel de , Préface. In: Questions historiques: revues et complétées d´aprés lens notes de l´auteur par Camille Julian, Paris, Librarie Hachette, 1923.

FERRO, Marc, Cinema e História, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1992


GRUZINSKI , Serge, La Guerra de Las Imagenes. De Cristóvão Colombo a “Blade Runner”(1492-2019), tradução de Juan José Utrilla, México , Fondo de Cultura Econômica, 1990.

MAQUIAVEL – Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio, tradução de Sérgio Fernando Guarischi Bath, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1979.

MENESES, Ulpiano Bezerra de. “Fontes visuais, cultura visual, história visual. Balanço provisório”. Revista Brasileira de História, ANPUH, São Paulo, 23, 2003.

NIETZSCHE, Friedrich, ”Da Utilidade e Desvantagem da História para a Vida”. IN Obras Incompletas. Seleção de textos de Gérard Lebrun e tradução e notas de Rubens Rodrigues Torres Filho, São Paulo, Editora Victor Civita, 1974.
[1] Nicolau MAQUIAVEL – Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio, p.17-18.

[2] Friedrich Nietzche, Da Utilidade e Desvantagem da História para a Vida. p. 66-69.


[4]Karl MARX – O Dezoito Brumário e Cartas a Kugelmann

[5] Benedetto CROCE, História y crônica, p.11-22
[6] Marc FERRO, O filme: uma contra-análise da realidade? In: LE GOFF, J. e NORA, P. (Orgs) “História: novos objetos”, p.203.

[7] FERRO, Marc. Cinema e História, p.15.

[8] Beaussart, F.-J.. “Mass Media et Moyen Âge: à propos du film: ‘Excalibur’”. In: Médiévales, 1, 1982, p. 34.

[9] Idem, p. 35.
[10] François Furet, A oficina da História, p.81