quinta-feira, 12 de março de 2009

Ameaça holandesa

                                                                    
Por Jessé A. Chahad

Enquanto o empreendimento açucareiro na América portuguesa conhecia algo que seria o auge de seu desenvolvimento, as incursões e conquistas no Oriente, podem ter se resumido ao simples estabelecimento de feitorias. A menor distancia das colônias do Atlântico do reino e a menor resistência dos nativos podem ter favorecido uma inserção em maior escala.
O deslocamento da dependência econômica antes gerada pelo comércio no Índico, para o promissor mercado atlântico, que contava com o domínio do tráfico de escravos e o desenvolvimento dos engenhos de açúcar que demandavam mão de obra escrava movimentavam a economia em escala cada vez maior e despertavam o interesse dos holandeses, que em guerra conta Castela teriam conquistado com forte ajuda da WIC, colônias na América e na África, e que após a separação das coroas com a Restauração portuguesa, teriam sido novamente reivindicadas pelo Duque de Bragança D.João IV em 1640.
No Brasil, durante a guerra com Castela, a WIC conquistou o litoral nordeste, na África a costa da Mina. A partir do fim da união ibérica, esse fato viria a questionar o tratado de paz que Portugal assinou com os países baixos após a Restauração, e colocaria em xeque-mate a base de sustentação do império português: o comércio de escravos, de especiarias, e a economia açucareira.
O tratado de paz na metrópole não impediu no ultramar a disputa mercantilista, e o malogro holandês na Bahia incrementava a disputa pelos benefícios conquistados pelos holandeses durante a guerra contra a Espanha em Pernambuco.O pensamento mercantilista de expansão comercial em conjunto com a mentalidade açucareira dos colonos, que não poderiam contar com a derrubada do pilar de sustentação do sistema colonial representado pelo mercado escravista assistia quase impotente ao declínio das exportações de açúcar e das importações de escravos negros.Essa mentalidade açucareira colonial confrontava-se com o forte pensamento acionista metropolitano da WIC, dos investidores e banqueiros holandeses, que visavam somente o lucro, em contrapartida pela busca portuguesa de status social.
Uma sociedade colonial luso-brasileira atolada em dívidas e afetada pela crise iria formar a massa necessária para a legitimação contra o “invasor” holandês, e iniciarão vários protestos e conflitos exigindo a retirada do estrangeiro. As insurreições iniciadas por volta de 1641, feriam a imagem da diplomacia portuguesa em seu tratado de paz com Nassau que renunciou am 1644, e acabavam com projeto português de comprar junto a WIC os territórios perdidos.Os conflitos continuaram, e a WIC foi se enfraquecendo financeiramente, o que atingia também suas frotas. As guerras contra a Inglaterra, e a dependência do sal português acabariam sendo fatores decisivos para o término do conflito com a expulsão dos holandeses e o pagamento da Coroa portuguesa no valor de cerca de quatro milhões de cruzados como indenização pelas perdas por parte da WIC.
Todo esse episódio deixou marcas indeléveis na economia da metrópole e da colônia, levando durante o processo ao endividamento dos colonos, falência de engenhos, e significou um fator importante para entendermos a crise que assolou a Europa e que refletiu no ultramar de maneira negativa.A aproximação da Inglaterra com a Coroa portuguesa viria a gerar uma dependência em termos de proteção contra investidas espanholas e holandesas e desembocará com o tratado anglo-português de 1662.